quarta-feira, 23 de junho de 2010

O Estrangeiro


Albert Camus foi um filósofo e escritor nascido na Argélia, onde cresceu em meio à um cenário de miséria e guerras. Vítima de uma grave crise de tuberculose que quase tirou sua vida, junto com a realidade do país em que vivia, o autor desenvolveu seu estilo literário dentro de um gênero denominado de estética do absurdo (assim como outros autores que o precederam como Dostoiévski e Kafka) - movimento que influenciou e ainda influencia não só a literatura, mas diversos tipos de arte e cultura.
O seu romance mais clássico, O Estrangeiro (L'étranger, 1942) faz parte do "Ciclo do Absurdo" composto também pelo ensaio O Mito de Sisifo e por uma peça de teatro chamada Calígula. Essa trilogia de Camus, em especial o romance que eu tive oportunidade de ler e super recomendo, demonstram bem o absurdo como a principal característica da sua filosofia.
O Estrangeiro narra a história de um homem comum, de gostos e hábitos simples - Meursault. É ele quem nos narra logo no começo do livro, com uma racionalidade que o acompanha durante toda a trama, o falecimento de sua mãe:
"Hoje, minha mãe morreu. Ou talvez ontem, não sei bem. Recebi um telegrama do asilo: 'Sua mãe falecida'. Enterro amanhã. Sentidos pêsames'. Isto não quer dizer nada. Talvez tenha sido ontem. (...) Por agora é como se mamãe não tivesse morrido. Depois do enterro, pelo contrário, será um caso arrumado e tudo passará a revestir-se de um ar mais oficial."
A história segue normalmente sem muitos dramas ou grandes acontecimentos, quando nosso pacato protagonista comete um assassinato num momento de delírio causado pelo sol e calor. Durante o julgamento, acusam-no muito mais por ele não ter chorado no enterro de sua mãe, por não demonstrar sentimentos e nem remorsos do que pelo crime que ele cometeu.
A personalidade do protagonista e a maneira que o autor escreve tornam O Estrangeiro uma verdadeira obra prima, e as últimas palavras do personagem ecoam com uma sensatez ausente na sociedade que o julgou e até mesmo atualmente.



Em tempo: O livro é tão bizarro que influenciou o trabalho de vários outros artistas. Os filmes Lo Straniero (1967) de Luchino Visconti, Yazgi (2001) de Zeki Demirkubuz e The Man Who Wasn't There dos irmãos Coen foram baseados no romance, além das músicas Killing an Arab do The Cure e Bohemian Rhapsody do Queen.

...


Dedico esse post ao meu sábio irmão mais novo Marcel que foi quem me apresentou a Meurselt (não poderia deixar de fazer essa pobre analogia com a semelhança de seus nomes!).



Nenhum comentário:

Postar um comentário