quinta-feira, 24 de junho de 2010

Sonhos




Eu sempre sonhei muito. Quando eu era criança eu tinha medo de tudo - principalmente de espíritos, e por isso acontecia de eu ter muitos pesadelos. Eu lembro como se fosse hoje, era só começar a escurecer e já me dava calafrios. Eu tentava de tudo... dormia de luz acesa, pulava pra cama dos meus pais uma noite sim e outra também e cheguei mesmo ao ponto de comprar um duende dos sonhos - que o vendedor jurou que tinha o dom de roubar meus pesadelos e guardar na sua bolsinha. Mas acho que a bolsa do tal duende veio furada...
Bom, meus problemas acabaram quando assisti a um episódio de "O Mundo de Beackman", onde ele ensinava a controlar o conteúdo dos nosso sonhos. Funciona mais ou menos assim, antes de dormir a gente mentaliza muito aquilo que quer sonhar e tem bastante chance de realmente acontecer. Voltando a minha infância, como eu sempre tive a mente muito fértil e era muito medrosa, quando eu deitava eu pensava em coisas assustadoras e acabava sonhando com elas...
Hoje em dia eu ainda sonho muito. Eu costumo dizer que eu tenho duas vidas, uma desperta e outra no mundo onírico. Todas as noites eu tenho um, dois, até três sonhos tão elaborados e criativos que eu nem imagino de que compartimento da minha mente aquilo pode ter surgido. E agora eu to tão escolada na técnica de Beackman que de vez em quando eu ainda mentalizo o que eu quero sonhar, ou acordo no meio de um sonho bom e volto pra ele e até mesmo penso no meio de um pesadelo que eu não preciso ter medo por que é só um sonho.
Geralmente ninguém tem paciência pra escutar o sonho dos outros, mas as vezes acontece de eu querer dividir a loucura que meu cérebro criou na noite anterior - por que nem eu mesma acredito naquilo - e dai as pessoas falam que eu tenho que escrever meus sonhos. Mas como além de sonhadora eu também sou insone, essa movimentação toda provavelmente prejudicaria meu sagrado sono.

...

Registrar todos os nossos sonhos seria muito bacana, mas mais bacana ainda é dar vida aos seus sonhos e poder mostrá-los como num filme, exatamente como foi pra gente. E teve um cara que fez isso e transformou os seus sonhos em uma verdadeira obra-prima do cinema.
Sonhos (Yume, 1990) é o registro mais bem feito da imaginação humana, realizado pelo cineasta japonês Akira Kurosawa que além de ser um puta diretor, tem a vantagem de saber desenhar storyboards de todas as cenas de seus filmes.
O filme japonês e norte-americano, indicado ao Oscar de Melhor Fotografia, é dividido em 8 histórias com mais imagens do que diálogos baseadas em sonhos do diretor e, reza a lenda, que em alguns momentos de sua própria vida. Algumas passagens também fazem referência a fábulas e mitos, ou a acontecimentos históricos reais. No colorido e lisérgico capítulo Corvos, um estudante faz uma viagem por dentro dos quadros do Van Gogh que é interpretado pelo cineasta Martin Scorsese!
Nesta fábula de sonhos, como acontece em tudo na vida, também há espaço para três pesadelos realmente macabros. Mas no geral, o filme aborda a natureza humana e sua relação com o meio ambiente.

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