quarta-feira, 9 de junho de 2010

Where your nightmares end...

Um homem flutua pelo espaço e "dá à luz" a uma criatura gosmenta pela sua boca. Em seguida, ele aparece caminhando em uma cidade abandonada. O cenário é  composto  num melancólico tom de preto e branco, cercado por fábricas cinza e velhas. Num jantar nada comum de família, o prato principal ganha vida e expele um líquido nojento, a sogra tenta pegar o futuro genro e depois entrega o que ela diz ser um bebê dele e de sua filha recém nascido - mas a frágil e doente  criatura mal parece com algum traço de humano. Um homem imagina (?) sua cabeça sendo usada de matéria prima para fazer borrachas para pontas de lápis. No fundo barulhos bizarros  de máquinas, chuva, ranger de dentes, coçar de olhos e músicas sinistras se intercalam.  
Esse é o universo de Eraserhead, o primeiro longa metragem de David Lynch e provavelmente um dos filmes mais perturbadores da história do cinema. (Eu ainda não tinha visto a Saló ou Os 120 dias de Sodoma e Gomorra do Pasolini quando comecei a escrever este post, mas isso é assunto pra uma outra hora...)
O projeto de Lynch, que levou cinco anos para ser concluído, começou com um roteiro de apenas 21 páginas e pouquíssima verba - mesmo contando com uma bolsa da American Filme Institute de Los Angeles, ele ainda precisou de grana emprestada dos amigos.  As filmagens rolavam em intervalos esparsos de tempo, o set era montado e desmontado e o ator que interpreta o protagonista Henry Spencer (Jack Nance) além de ter ficado até 18 meses sem filmar, teve que manter seus cabelos rebeldes como os do personagem durante todos esses anos.
Mas o empenho valeu a pena. Em 2004, o filme foi considerado "culturalmente, historicamente e esteticamente significativo" pela Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos e selecionado para preservação no National Film Registry. Já Lynch, conquistou reconhecimento como cineasta e pôde dar vida a outras obras tão incríveis quanto essa.
A fotografia naquele melancólico tom de preto e branco descrito acima, que impõe um clima ainda mais pesado ao filme, ficou a cargo dos fotógrafos Herbert Cardwell e Frederick Elmes (Elmes também fez alguns trabalhos para Ang Lee e Jim Jarmusch, o diretor de Coffee and Cigarettes).
Não existe classificação para Eraserhead - é o tipo de filme que cada um interpreta de sua maneira. Até o próprio diretor não costuma falar sobre ele, mas já afirmou que este foi o seu filme mais espiritual, um "sonho de coisas escuras e perturbadoras". Em outras palavras, um verdadeiro pesadelo lynchiano. 

...


As vezes continuamos com as sensações de alguns sonhos  mesmo depois que acordamos, e com bons filmes é a mesma coisa. Eresarhead é de certa maneira, um "sonho" incômodo de lugares inabitáveis e de pessoas que não existem em lugar nenhum. Por isso, e em outras situações que se seguirão, Chocolate Jesus recomenda: alugue uma comédia para assistir depois!
Falando nisso, você já assistiu Tempos Modernos?.....

To be continued...


Um comentário: